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O que se pode, com rigor histórico, saber sobre Maria Madalena
Quem foi Maria Madalena? Na personagem que normalmente designamos por «Maria Madalena» encontram-se várias outras figuras e diversas tradições religiosas. Os pequenos e poucos trechos que os Evangelhos nos fornecem sobre esta mulher encaixaram perfeitamente em medos e sonhos carburados ao longo de séculos.
Os evangelistas referem-na escassas vezes. Além de se ter criado uma insolúvel confusão entre algumas mulheres que foram acompanhando Jesus, há todo um inevitável esquecimento de que a figura real terá sido alvo.
O próprio silêncio dos textos em muito ajudou a que, nessa figura pouco definida, se fosse encaixando muito do imaginário religioso antigo. Foi neste contexto, em que era difícil vislumbrar a verdadeira Maria Madalena, que teve lugar, de facto, uma progressiva luta pelo papel da mulher nas comunidades cristãs primitivas. Na Maria Madalena recaíam, oficialmente, todas as manchas negativas das restantes mulheres que acompanharam Jesus Cristo, exceptuando a Virgem Maria. Em todas, a tónica é a da mulher que, pelo seu esforço e piedade, expiou os seus pecados.
A Maria Madalena elaborada na Idade Média é a filha pródiga reencontrada, a virtude, a imagem perfeita de uma cristianização total da Europa. No fundo, uma não teóloga que se liga às populações, sentindo e concretizando os seus anseios.
Quem foi verdadeiramente Maria Madalena?
Maria Madalena é uma figura multifacetada e fugidia, resultado de múltiplas interpretações a partir da história real e de construções, sonhos, expectativas, repressões, sempre fascinante e provocatória, prostituta, amante e esposa, pecadora e penitente, pagã e cristã, ideal da mulher apaixonada que segue Jesus Cristo.
Com o romance O Código da Vinci, Maria Madalena, identificada com o Santo Graal, tornou-se uma figura que atraiu as atenções. Com a "tese" do casamento de Jesus e Maria Madalena, parecia que era possível encontrar a descendência carnal de Jesus. Para lá da acção vertiginosa, o sucesso do livro dever-se-á também ao facto de pretender responder a uma curiosidade legítima, constantemente sufocada: como poderá ter sido a vida sexual de Jesus? Mas é bom prevenir que se trata de uma obra de ficção.
O leitor tem agora, finalmente, a possibilidade de aproximar-se da verdadeira história de Maria Madalena e da sua identidade, com a oportunidade de uma reconciliação com o corpo e o feminino.
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